terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sushiman ao molho branco

Por Dagô Teodoro (do Escrevivendo Luz)

Sempre que via um homem oriental ficava extasiado. Filho mais velho de uma família conservadora, desde pequeno escondi meus verdadeiros desejos. Cresci e até namorei algumas meninas, mas no refúgio do meu quarto, quando batia uma punheta... Era nos rostos arredondados e de olhinhos puxados que eu pensava. Esse desejo ficou latente em mim até os vinte anos. Estava no último ano de gastronomia e havia conseguido um estágio num ótimo restaurante de comida japonesa na região do Itaim. Isso me daria muitos pontos na tese conclusão de curso. O chefe de cozinha era sushiman muito bem conceituado no meio gastronômico. Mas ao vê-lo só pensava como seria aquele monumento sem kimono, pois era um belo oriental, 35 anos, solteiro, cabelo todo espetadinho levemente desestruturado, o corpo malhado com músculos bem distribuídos em seus 1,75m, olhinhos puxados e um sorriso maroto emoldurado por um cavanhaque que o deixava com ar de safado, além de tudo isso, era extrovertido e bem falante, eu pagava o maior pau por ele. As semanas seguiam e eu só na vontade. Até que numa madrugada o japa me escalou para ficarmos depois do expediente e montarmos um menu especial, logo de cara gostei da idéia. O novo cardápio foi um sucesso! A partir de então, tornei-me seu pupilo preferido, passei a acompanhá-lo a eventos em hotéis e convenções e saíamos para batermos uma bolinha com o pessoal do restaurante nos dias de folga. Um dia, ele apareceu com uma gata, disse que era sua nova transa. Fiquei roxo de ciúme, mas me segurei. Para me provocar, ele me contava tudo. Falava como ela o beijava, as posições que eles faziam na cama e até o modo como ela gemia na hora do rala e rola. Pensei em desistir daquele japinha. Mas novamente ficamos no restaurante depois do horário. Naquela madrugada, o japonês testou alguns pratos a base de saquê. Saquê vai, saquê vem e o japa ficou doidão. Foi minha chance, me ofereci para levá-lo embora. Ao entrarmos no apartamento, deitei o japa na cama, tirei-lhe os sapatos e as meias, que pés maravilhosos, com cuidado afrouxei o colarinho, desabotoei o avental. Ele não tinha muitos pêlos. Não agüentei e habilmente desvencilhei o cinto e abaixei as calças dele. Ele estava com uma cueca vermelha modelo boxer. Que delícia! Decidi fazer o teste do bafômetro e cai de boca não rashi do japa. Ele começou a balbuciar: “Caralho, que boca gulosa e safada... Isso, mama!” De repente o japinha me segurou com força pelos cabelos e empurrou minha cabeça para junto do seu saco. Era minha primeira chupeta! Engoli e suguei aquela trolha oriental com gosto. Ele ergueu as pernas e exibiu o anelzinho nipônico cheio de pregas. Logo passei minha língua ao redor daquele cuzinho depilado, mordi a bundinha do japonês, dei umas palmadinhas de leve. Ele gemeu e me pediu que fizesse um fio terra, introduzi meu anelar naquele Monte Fuji suculento. O japa se contorceu de prazer e exigiu que eu o comesse. Minha casseta estava dura feita uma verga. Só tive tempo de sacar um pacotinho de camisinhas, encapar meu tempurá e lambuzar o sushizinho dele com gel lubrificante. O japinha ficou na posição de frango assado e eu soquei com força. “Me fode seu puto! Arromba esse cu que tá com fome de pica!” Ele gemia feito uma gueixa louca. Começamos um vaivém alucinante. Estávamos tão empolgados que chegamos à velocidade cinco. Nossa respiração passou a ser uma só e aquilo me dava mais tesão para beijá-lo loucamente. Comi o japa em várias posições possíveis e imagináveis até gozar na cara dele. O japa bateu uma punheta e ejaculou em cima de mim. Exaustos, ficamos por algum tempo abraçados nus, lambuzados de suor e porra.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lupanar

Estas são as produções correspondentes à proposta que levamos no sétimo encontro (cf. "Encontros"). Os nomes dos autores são pseudônimos.


Proposta: lupanar. Objetivo: trabalhar o vocabulário do poema "O elixir do pajé", de Bernardo Guimarães. O lupanar é uma atividade lúdica de escrita em que se fornecem vocábulos muito exóticos, cujo significado seja desconhecido da maioria dos participantes. Então, pede-se a produção de um texto que contenha todas as tais palavras. Para contornar a dificuldade, muitos tentam fazer associações com a forma da palavra, seja a forma escrita seja a forma sonora. Mais especificamente: joga-se com a dicotomia significante x significado, a qual compõe o signo.

A lista é a seguinte: cona: vulva; peta: mentira; endefluxar-se: constirpar-se; pívia: masturbação masculina; manitó (manitu): entre os índios alonquinos dos EUA, energia vital, imanente a homens, animais, plantas, fenômenos da natureza; triaga (teriaga): medicamento caseiro, antídoto contra veneno; inúbia: tipo de trompeta de guerra dos índios tupi-guaranis; boré (toré): trompeta; marzapo: pênis; crica: vulva.

O BANQUETE ESTRANHO

por Carmina Joana

Ao sair do manitó, encontrei meu amigo Carlos, que me disse:
- Olha, sua peta está aparecendo!
Enrubesci e pensei cá com os meus botões:
- Tinha que ser ele para usar essa linguagem pívia.
Afugentei os pensamentos chulos e fui juntar-me ao grupo. Parecia estar havendo uma discussão acalorada. Lizandra era a mais exaltada. Não é para menos, eita mulherzinha crica! Achei um lugar bem ao lado da Lia - meu amor não declarado - que conversava com Cláudio. Que olhos, que lábios, que maravilha seria endefluxar-se naquele olhar. Sem perceber, foram chegando os pratos daquela culinária exótica e multicultural. Disseram que era teriaga ao molho toré. Carlos, o engraçadinho, propôs:
- O primeiro a provar é o Miguel, que tem o paladar refinado, assim como o seu linguajar!
Lia voltou-se para mim e sorriu.
Desajeitadamente, experimentei o prato principal.
Senti uma ardência, um calor, um fogo na garganta e por fim, desavergonhadamente, pus a cona para fora.
Lágrimas escorreram de dor e de vergonha. Lia me abraçou. Inúbia e bela, beijou-me e assim, permaneci em seus braços.
Terminamos a noite degustando um bom mazarpo.
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O DIA EM QUE MEU AURÉLIO PIFOU
por Mr. Polifrases
O que ela queria mesmo, depois daquele estafante dia de trabalho, era indefluxar-se na cama, cona e pívia relaxadas, e pensar na vida.

Mas, inúbia e crica que era, não conseguia tirar da cabeça a peta que levaria por conta do que havia feito com o Marzapo.

Agora sim é que o Marzapo iria contar para todo mundo, como de fato contou, que ela era a maior teriaga, toré que havia pisado a terra desde que o homem caminha sobre duas pernas.

Segunda proposta

Caros visitantes,


Nesta postagem, estarão os textos que são resultado de nossa segunda proposta (veja abaixo), a mais complexa do módulo.


Antes de publicar aqui, os escreviventes debateram muito sobre erotismo e pornografia, fizeram a troca em duplas e eu, mediadora responsável pela parte lingüística da oficina, fiz também, por minha vez, críticas e sugestões aos textos. Lembramos que sempre ratificamos a autoria, segundo a qual os autores escreviventes podem ou não acatar a nossos pitacos.


Vale a pena ler todos os textos, pois são bem escritos e muito críticos, obtidos por meio de muito trabalho, muito suor. Pode-se dizer que trata-se de verdadeiras conquistas.
SEGUNDA PROPOSTA
Elaborar um texto discutindo o que é (natureza, essência), para que serve (prática social, situação de comunicação) e como se constrói (linguagem, escolhas lingüísticas, imagens) um texto erótico e/ou pornográfico. Pode-se acrescentar experiências, memórias em geral (de vida, de livros, de filmes, etc.). Esperamos que daí saia um texto híbrido de estrutura argumentativa e narrativa. Não há especificações de gênero textual.



EROTISMO E PORNOGRAFIA
ENSAIO
Por Bruna Nehring
“De todas as aberrações sexuais, a castidade
é a mais estranha.” Anatole France (1844-1924)

Basta o som da palavra erotismo para que a maioria das pessoas sinta-se agredida por algo quase obsceno. Parece difícil separar “erotismo” de “pornografia” quando na realidade há um mar entre os dois termos.
Entendo muito bem certas hesitações em abordar o assunto erotismo como um tabu, como algo sujo e inconfessável. Para mim, o erotismo, além das definições lacônicas dos dicionários, é a exaltação do ato sexual, evolução natural do amor sentimental para o amor carnal. O amor romântico não morre com o nascer do erotismo entre duas pessoas, pelo contrário: o erotismo alimenta e rejuvenesce o amor romântico, visto que, da criação erótica na relação sexual, renascem as vibrações que fazem com que as pessoas reencontrem seus parceiros, diminuindo a distância das horas de separação, voltando a reconhecer-se pelo amor, pelo contato e pelo desejo que os afazeres, os problemas, as dificuldades diárias extenuaram no cansaço e na mesmice; isso no que se refere a relações íntimas.
Há porém o erotismo empregado de forma visual, com a finalidade precípua de levar as pessoas para ele. São as imagens, os versos, as palavras, os sons, que são levados a público para descrever e ilustrar o erotismo. Uma pintura ou escultura de um nu não é suficiente para levar a pessoa à sensualidade. Ela deve ter algo mais, um requinte de técnica, uma posição especial, um detalhe mais em evidência, uma intenção no olhar; por exemplo: Goya pintou duas mulheres aparentemente estáticas, porém, subjetivamente, percebe-se muita sensualidade entre as duas, sugerindo uma relação lésbica. Ao mesmo tempo, tais obras devem revelar a capacidade de quem as fez de transmitir algo belo e construtivo, algo quase acima do terrestre, algo mais sublime do que a definição etimológica daquilo que foi criado. Essa imagem, com essas características e com essas intenções, se transforma numa mensagem que conta - e inspira - uma estória. Ela revela a alma de quem a compôs ou de quem foi retratado ou do povo de onde surgiu. É a criação artística em volta de um sujeito.
Existe na mitologia grego-romana a divindade Priapo-Fallo (deus do sexo), de semblante feio, que, representado numa escultura do primeiro século a.C., ostenta um pênis de grande desproporção pela sua pequena estatura; em exposição num museu, terá exercido sua função artístico-educativa. Uma reprodução do mesmo nos salões de um evento ligado, por exemplo, à divulgação de um novo contraceptivo, vai adquirir um efeito erótico, forma de lembrar aos freqüentadores o quanto é importante usar o produto promovido. Já decorando a entrada de um bordel, sua intenção será evidentemente pornográfica, fora de qualquer contexto, mera obscenidade.
Recentemente, escrevi a receita de um drinque para um amigo que, em breve, receberia para jantar uma mulher de seu interesse. “KIR-ROYAL”, um drinque a ser servido como aperitivo OU na sobremesa, dispensando o café. Muito simples, simples demais.
Visto que eu estava, junto com a receita, desejando-lhe sucesso na conquista, quis dar um ar mais romântico, mais sensual, num texto um pouco mais longo do que uma simples receita de dois ingredientes e sugerir nas entrelinhas quão erótica poderia tornar-se a ceia. Transformei a receita original nisto:

Querido amigo,
Aproveite a receita daquele meu conto “O Sena na neve”. A comida é fácil, rápida e de grande efeito no paladar e no visual. Sirva os vinhos durante o jantar e guarde a garrafa de champanhe na geleira (de prata, se puder), bem à vista na mesa até a hora da sobremesa. Coloque em cada taça de boca larga (como aquelas do dry Martini) uma dose de licor de Cassis (se não tem medidor, use uma colher de chá ou de sobremesa, mas a medida mais apropriada seria aquela que V. imagina caber na boca dela!).
Agora (atenção ao gestual, carinhoso, misterioso, sensual...) abra a garrafa de champanhe (brut, por favor... É mais caro, mas coloca você num nível de privilégio e ela, num pedestal...) e aguarde alguns segundos, para que a espuma se dissipe, e encha o restante dos copos. Escolha um fundo musical: algo imortal da bossa nova, por exemplo. Saiam da mesa, copos e garrafa na mão, e acomodem-se num sofá macio e acolhedor. Uma dica final de alguém que já foi brindada com isso (com resultado inesquecível...): reze para que ela tenha chegado calçada com lindos escarpins e faça os brindes seguintes utilizando-os no lugar das taças. Atenção: não é fácil beber de um sapato, mas, afinal, quando isso estiver acontecendo, não haverá como estragar a roupa de ninguém.

Tudo isso por que o erotismo é freqüentemente ligado à bebida e, mais ainda, à boa comida: um estômago mais do que satisfeito solicita aos demais sentidos a urgência de satisfações ulteriores.
Nos anos sessenta, lembro de uma cena do filme Tom Jones em que a já cinqüentona Angela Lansbury estava sentada à mesa rústica de uma taberna - coisa de aventuras e espadachins – estraçalhando peles e carnes de frangos e carneiros: gordura descendo pelo queixo, língua catando resíduos em volta dos lábios, dedos ensebados esfregando o decote entre seios suados. E seus olhos despindo furiosamente a farta camisa branca do jovem à sua frente, que, no mesmo frenesi, também deglutia a comida, arrancando a dentadas até a cartilagem dos ossos. O erotismo da glutonaria era tão forte que não foi necessário acompanhar a corrida dos dois para a cama.
Pornografia? Para isso deveriam ter estado os dois, já nus, comendo e comendo-se na mesa, num ritmo de toques e de frases que se entredevorassem e se repetissem entre si. Então, todas as fases anteriores da película, tão elegante e classuda, apesar do argumento, estariam obliteradas, e as cenas seguintes, jogadas à vulgaridade. Se cenas assim fossem a constante do filme, não seria mais nem pornografia, mas obscenidade, que – parece-me - é a pornografia acrescida do mau gosto.
E o que dizer de O último tango em Paris - se não me engano, do Bernardo Bertolucci, -, cujas cenas de sexo com preliminares de prática discutível não conseguiram ser nem pornográficas nem obscenas. A habilidade do diretor enquadrou no personagem (um Marlon Brando silenciosamente dilacerado pelo remorso) a transformação de sua culpa em luxúria desenfreada, perante uma parceira (aquela Marie Schneider, de grandes atuações e pouquíssimos filmes) vagante entre a incredulidade da situação e a esperança de um orgasmo inesperado.
Nos anos 70, mais precisamente em 1973, uma produção ítalo-francesa, intitulada La grande bouffe (A comilança), chegou aos cinemas europeus com grande escarcéu, sem proibições, sem censuras, arrebatando o grande Prêmio da Crítica Internacional. Tudo isso pela habilidade artística dos roteiristas Marco Ferrero e Raffaele Ascona . Dirigido por Ferrero (Ah! Esses italianos...), o filme contava a determinação de quatro homens a matarem-se de tanto comer.
Interpretados por atores do calibre de Marcello Mastroianni, Ugo Tognazzi, Philipe Noiret e Michel Piccoli, os personagens – cada um com suas frustrações, que os levaram a tamanha decisão - transmitiram sem excessos nem vulgaridade as ansiedades emocionais e culinárias de cada um. Era de ansiedades que se tratava e não de mera fome. Numa grande mansão, num ambiente de grande cozinha e seus apetrechos, entre uma daquelas enormes geladeiras de madeira com janelão de vidro dos açougues e fogões de mil bocas a gás e a lenha, sabores e aromas pareciam invadir a sala do cinema. Entre as mesas dos jardins e dos dormitórios - onde também transitavam prostitutas, embora não houvesse nenhuma cena de sexo esplícito -, os pratos exalavam sensualidade. Nem a presença de uma Andréa Ferreol, atriz de opulência “junônica”, conseguiu dar ao conjunto uma conotação pornográfica. Tudo foi erotismo e sensualidade: na tela. A platéia: à flor da pele.
Saí do cinema, quase correndo naquela avenida desconhecida, à procura de uma farmácia: queria um alka-selzer a qualquer preço. Eliminada sua efervescência por boca e nariz, continuei em disparada na direção ao Hotel em que estávamos hospedados e onde deveria encontrar meu marido, após sua reunião de negócios. Desejei ardentemente que ele já estivesse lá. Estava. Ardentemente foi o termo certo.
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Erotismo x pornografia
por Marisa Fernandes
Muitas vezes nos deparamos com frases como: “Isso é muito pornográfico, prefiro algo mais erótico”. Mas, afinal, o que é pornografia? E o que é erotismo? Penso que cada um de nós tem uma percepção diferente para cada uma dessas palavras...

A pornografia pode estar presente em um filme (de gosto duvidoso?), em uma obra literária (podemos chamá-la assim?), em determinados espetáculos (?), na mente de uma pessoa...

Uma obra pornográfica é:

algo bruto,
não lapidado,
grosseiro,
agressivo,
algo que se apresenta “nu e cru”,
vai direto ao “assunto”,
o lado animal do ser humano,
o grotesco,
a exploração sexual ...
É algo devasso,
é apelativo,
é de mau gosto,
é tosco,
é escancarado,
é obsceno,
é explícito ...
Pode nos causar aversão!

O erotismo pode estar presente em um filme (com um forte apelo sensual, que delicia ...), em uma obra literária (que nos sensibiliza), em uma peça de teatro (que nos arrebata), em uma obra de arte (que nos encanta), na mente e sentidos de uma pessoa ...

Uma obra erótica é:

algo sensual,
implícito,
voluptuoso,
delicado,
sensível,
traz um prazer delicioso,
que vem aos poucos e,
por isso mesmo,
é mais intenso...
A sensação de prazer se prolonga...
O erótico nos embala,
nos sugere,
nos conduz,
de uma forma leve,
mas firme.
O erótico é Belo
e
pode nos deleitar!

Não há como não se encantar com obras como “O Beijo”, a escultura de Rodin ou “O Beijo”, a pintura de Gustav Klimt.

Sétimo encontro (22-11-2008)

Caros visitantes,

Para o encontro de hoje, propusemos uma atividade lúdica, porém com fim bem específico: trabalhar o vocabulário do poema "O elixir do pajé", de Bernardo Guimarães, que distribuímos no encontro anterior. Nesse poema, há muitos arcaísmos, palavras inusuais de conotação sexual e vocábulos exóticos em geral, por isso achamos interessante propor um lupanar. Lupanar (bordel) é uma atividade lúdica de escrita em que se fornecem vocábulos muito exóticos, cujo significado seja desconhecido da maioria dos participantes. Então, pede-se a produção de um texto que contenha todas as tais palavras. Para contornar a dificuldade, muitos tentam fazer associações com a forma da palavra, seja a forma escrita seja a forma sonora. Mais especificamente: joga-se com a dicotomia significante x significado, a qual compõe o signo. Demos 10 min. para que todos terminassem o texto, depois revelamos os significados e fizemos a leitura oral compartilhada das produções. Gargalhadas!

A lista de palavras foi a seguinte:

cona: vulva; peta: mentira; endefluxar-se: constirpar-se; pívia: masturbação masculina; manitó (manitu): entre os índios alonquinos dos EUA, energia vital, imanente a homens, animais, plantas, fenômenos da natureza; triaga (teriaga): medicamento caseiro, antídoto contra veneno; inúbia: tipo de trompeta de guerra dos índios tupi-guaranis; boré (toré): trompeta; marzapo: pênis; crica: vulva.

O resultado vocês conferem em "Produções - Lupanar".

Em seguida, a partir de uma autocorreção que fiz numa estrutura lingüística que havia construído, um escrevivente pegou o gancho e criticou o padrão lingüístico estabelecido pela Rede Globo e pela elite em geral, dizendo que se tratava de um empobrecimento da língua, além de excluir socialmente os falantes de outras variedades lingüísticas que não a de São Paulo. Sua crítica encontrou muitos adeptos, então passamos a debater com mais cuidado a relação existente entre língua e poder (1), o que pensamos ter sido muito enriquecedor para todos nós.
Após o intervalo até o fim do encontro, passamos a explicar passo a passo como criar e manter um blog, uma vez que acreditamos nele como sendo uma ferramenta importante para a publicação dos textos.
Pedimos que todos terminassem seus textos revistos após a troca em duplas e nos enviassem por e-mail, a fim de que fizéssemos nossas sugestões, eles reelaborassem o texto - se quisessem - e nos reenviassem para a publicação aqui. Tais produções "finais" (1) estão em "Segunda Proposta".
Loreta
1. Para um aprofundamento do tema, recomendamos a leitura de:

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália (novela sociolingüística). São Paulo: Contexto, 1997.
____________. A norma oculta - língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.
____________. Preconceito lingüístico - o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
____________. http://www.marcosbagno.com.br/index.htm (site oficial, acesso em: 03-12-2008).
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996. Toda a obra desse mestre é recomendadíssima!

sábado, 29 de novembro de 2008

Eros, o último que morre


Por Roberto Dupré


Lá, em Kathmandu, no topo do mundo, onde se vê o mais alto e o mais profundo, vivem apenas dua espécies de aves: as multicoloridas esperanças e os frágeis pálidos sonhos. As esperanças se alimentam dos sonhos, cujas plumas entopem os córregos congelados e as geleiras em formação. Quando não há o que comer, as esperanças voam para as planícies e nos quartos improváveis dos bairros invisíveis, nos fazem acreditar que todas as coisas são possíveis. Até mesmo ter Você. E, quando fenecem, tudo o que resta são pequenos sofreres e dores imensas.
Da janela do monastério, lá em Kathmandu, um monge cansado e sem paciência sorri um último sorriso.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sexto encontro (15-11-2008)

Caros visitantes,

A programação do encontro de hoje não foi ambiciosa em termos quantitativos, tendo sido nosso objetivo consolidar algumas conquistas que logramos ao longo do módulo deste Escrevivendo.
Primeiramente, quisemos ouvir dos escreviventes seus comentários a respeito do debate que lhes proporcionamos com os poetas Glauco Mattoso e Donny Correia e com o filósofo Valter José (veja "Quinto encontro"). Glauco, ao mesmo tempo que aclamado por muitos escreviventes (a maioria), sofreu a crítica de ser simplesmente um poeta que escrevia para se livrar de traumas. Contra isso, lembramos o interlocutor de que se tratava, na verdade, de se escrever a partir dos traumas, exortado por eles: por ser cego e homossexual, principalmente. O objetivo principal de Glauco Mattoso - e de toda poesia satírica - é vingar-se da sociedade. E por que criticar a escatologia presente em sua poesia se "a sociedade é suja" (comentário de uma escrevivente)? Outro escrevivente atenta-nos ao fato de que o poeta constrói uma persona satírica, com a qual não necessariamente se identifica por completo. Diz ele: "Duvido que o Glauco faz tudo aquilo que ele relata em sua poesia". Provocação!
Quanto a Donny, foi unânime a opinião de que ele foi prejudicado, uma vez que houve pouco tempo para que falasse de si e de sua poesia, a qual, segundo Bruna, nossa escrevivente, é tão afetiva, tão sensível e, ao mesmo tempo, precisa.
O principal comentário a respeito de Valter José foi de que eles, escreviventes, antes de conhecê-lo, não imaginavam que seria possível unir tamanha erudição ao gosto pelo pornô. Criticou-se o fato de o cinema ter sido muito mais inquirido que a poesia de Glauco Mattoso e de Donny Correia.
Em relação à atividade do debate, ficamos muito satisfeitas com os comentários. Uma escrevivente disse que foi uma "oportunidade espetacular, pois nunca me imaginei conversando com um cineasta de filme pornô", enquanto outro disse que "a discussão foi de grande profundidade."
A segunda metade da aula foi reservada inteiramente ao que chamamos de troca em duplas. Durante 1h30, os escritores tiveram a oportunidade de reler o texto uns dos outros e comentá-lo com mais acuidade, criticando com minúcia cada pormenor da linguagem. Trata-se de um dos momentos mais importantes do Escrevivendo, pois dá continuidade à reflexão sobre o processo de escrita e sobre a atividade de metalinguagem, numa oportunidade de pensar sobre os diferentes efeitos expressivos de diferentes construções, repensar escolhas lingüísticas e descobrir alguns meandros do processo criativo, desautomatizando o que é "inconsciente" na escrita.
Infelizmente, nesse momento notamos certa resistência por parte de alguns escreviventes, e achamos importante esclarecer o objetivo, o porquê da troca em duplas, além do que já expusemos acima. O fato é que o Projeto Escrevivendo, assim como o método de ensino de escrita de Lucy McCornick Calkins (1989), o qual procuramos seguir, vê na interação com o outro uma das principais funções da escrita e do discurso em geral. Se, por um lado, a interação se dá de forma magnífica na leitura oral compartilhada dos textos, nós, participantes de uma oficina de escrita, não poderíamos deixar de estabelecer tal interação também com o texto escrito, o que se materializa através do "comentário":
A participação do outro, ultrapassando a revisão que seria a de um corretor ortográfico ou gramatical (...) traz para a pauta de discussões o funcionamento real do discurso, a construção dos significados, as inferências, a interlocução possível com um destinatário distante (GARCEZ: 1988).
Não faria sentido para nós somente a revisão gramatical por parte do professor, que seria o único interlocutor do texto e seu único leitor. Dessa forma, o processo de escrita ficaria muito fechado, o que vai totalmente contra nossa concepção pragmática de que a língua e os textos são uma forma de intervir no mundo, socialmente, portanto. Ainda que os textos sejam ótimos e já muito bem escritos, como no caso desta nossa turma, sempre há o que melhorar, e a busca pela precisão, pela máxima expressão nunca se completa. Esse é um fato nada desalentador, pelo contrário; deve-se encará-lo como uma provocação, uma exortação ao trabalho com a linguagem!
O Projeto Escrevivendo, assim como o método de Calkins, prevê a leitura cuidada do professor, a qual os alunos esperam e exigem, mas desde que não seja a única leitura.
Durante a troca em duplas, Mafuane e eu fomos a cada uma, tentando aconselhar, ver e ouvir o que estava sendo feito, acompanhar a atividade de perto. Adoramos esse momento de labuta e de esquecimento de si por parte dos autores. O tempo voa e o resultado é magnífico, como pudemos constatar nos textos que vimos recebendo, os quais serão postados logo mais.
Loreta
BIBLIOGRAFIA
CALKINS, Lucy McCornick. A arte de ensinar a escrever. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
GARCEZ, Lucília H. Anotações para o futuro. In: A escrita e o outro - os modos de participação na construçao de um texto. Brasília: UnB, 1988. p.158.

sábado, 22 de novembro de 2008

Erotismo em Canova

Contribuição da Escrevivente Bruna Nehring
ANTONIO CANOVA (1757-1821)

Apesar de autodidata, foi o renovador da grande escultura italiana, o maior representante do neoclássico, tendo construído suas composições através do estudo da natureza e dos grandes escultores clássicos.

Trabalhou a convite de mecenas em diversos países europeus, como Alemanha, Inglaterra, Espanha, França, onde recebeu o convite de Napoleão para esculpir sua estátua e a de sua irmã, Paolina Borghese. Existem tradicionalmente anedotas sobre as duas: Canova fez uma escultura em bronze de Napoleão, retratando-o como o Deus Apolo, mas Napoleão não gostou da idéia de ser retratado nu e recusou a obra. Então, Canova levou-a de volta para a Itália, onde foi colocada no pátio do Palazzo de Brera em Milão. Já a escultura de Paolina Borghese (1805-1808), apesar de ela ter pousado seminua, foi aprovada por seu marido, Príncipe Borghese, e está até hoje na Galeria do Palazzo Borghese, em Roma. Dizem que o formato da primeira taça arredondada de champanhe foi moldado no seio dela (na escultura).

Outra obra muito famosa sua é Amore e Psiche*, de 1793, a qual retrata Eros aproximando-se de Psique adormecida para despertá-la com um beijo.




A grande fama de Canova deve-se à sua rejeição aos excessos de musculatura, até então herdados dos escultores gregos, e sua grande mestria na escolha dos mármores mais brancos, sem estrias, arte dificílima, pois os grandes blocos não revelam eventuais defeitos em seu interior.


*Consulte o mito de Psique em Leitura Complementar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Quinto encontro (08-11-2008)

Caros visitantes,

O encontro que relataremos agora foi muito importante para a oficina do Escrevivendo Memórias Eróticas.

Esse foi um dia reservado ao recebimento de convidados ligados ao mundo da poesia, uma vez que o Escrevivendo é o único curso da Casa das Rosas - um espaço de poesia - que trata da prosa. Segundo o tema deste módulo, convidamos os poetas Glauco Mattoso e Donny Correia e o filósofo e cineasta Valter José para um debate em torno da questão sobre os limites entre erotismo e pornografia.




















A palavra foi cedida primeiramente a Glauco Mattoso (1), que teria somente uma hora para ficar conosco. Após rápida apresentação de si - uma vez que muitos ainda não haviam tido contato com sua obra - o poeta passou a discutir elementos essenciais de sua poética, que nos interessam muito de perto, como o erotismo - este representado por sua podolatria, um fetichismo por pés, que remete à submissão - e a escatologia, no plano do conteúdo, e sua disciplina formal, seu rigor estilístico - no plano da forma. Declara-se um pornosiano, que destila temas sujos, escatológicos e retifistas em formas poéticas preciosistas como o soneto decassílabo. Fala um pouco sobre suas leituras "infantis" - Monteiro Lobato, Frank Caprio e Jean Genet - e diz que seu Manual do podólatra amador (1986) foi escrito para encerrar sua vivência visual, sendo repleto de pessimismo. Tendo comparecido ali como prosador, diz Glauco que A planta da donzela (2004) é uma paráfrase de A pata da gazela (1870), de José de Alencar, com quem dialoga por meio da paródia. "Trata-se de uma colcha de retalhos de intertextos", diz.


SONETO 401 - IMPERFECCIONISTA


Agora lhes descrevo o pé que adoro:
Maior que o meu, portanto masculino,
ainda que pertença a algum menino,
suado até, por tudo quanto é poro.

Fedido de chulé: nunca inodoro.
Sapato ou bota: em couro nada fino.
Assim, folgado e sádico, o imagino,
igual aos que da infância rememoro.

Mais longo o indicador que o polegar,
na planta é plano, e não do tipo cavo.
Percebem onde, enfim, quero chegar?

O pé que idealizo, beijo e lavo
na língua, no tesão, no paladar,
é aquele que me trata como escravo.

Não houve tempo de fazer perguntas a Glauco Mattoso, e havia muitas, não só nossas como dos provocadores escreviventes, pois eles ficaram com poemas de Bocage - cuja tradição de "poeta maldito" Glauco mantém - para estudar; sobrou, então, para Donny Correia e Valter José.



Donny Correia (2) apresentou-se e falou também um pouco sobre suas influências. Diz que, embora não faça uma poesia erótica, de fato, não nega que de certa forma dialoga com o que viu em 120 dias de Sodoma, de Pasolini, que ele considera um marco em sua vida, não por identificação, mas como válvula de escape de uma família que alimentava tabus em relação ao sexo. Em sua poesia, Donny gosta de tratar da loucura e da escatologia, não somente do sexo, como vemos neste poema:



CORPOCÁRCERE

derme de plumas, úmida
suculenta
morfou-se vulva de pedra
glácea

suspiro que seja bélico
suspeito que seja eclipse

som surdo:
música em seu corpo
sem partitura,
gentil veneno sem bula
faca de dois beijos
lânguida lâmina
de pelos e plasmas

túnel de lava faminta
cercada de seixos pudicos
amianto de fogo prata
na sólida disciplina de algoz

prisioneiro de sua pele seda: sou

enforco-me no casulo letal
da mel retina em sua guarda

os emblemas do vício

açoitam a ausência
deslizar de dedos
por quilômetros intensos
de tensão insaciável
de repulsa violenta
carnal

trombetas de mil pontas
dilaceram a libido
e tocam a balada
mordaz de um faminto
que se farta
de agonia

derme de plumas, úmida
suculenta
banquete de orgias gregas
petisco da imagem
só, projetada em vídeo
céfalovirtual

alquimia letal
de ouro e cicuta
fuligem nos
escombros do
b e l o

derramo-me tórrido
no unicorpus: nós

Vale também registrar outro, bastante conciso e incisivo:


SEM TÍTULO

clitóris
ponta de lança

carne letal

broa de sangue

banquete barato
forca

e toda libido
intrínseca
num só silêncio


Os escreviventes estiveram muito atentos e interessados durante todo o debate...















Vocês são magníficos!




















Valter José (3), filósofo, foi muito inquirido, justamente pela polêmica de suas antigas atividades: 1. crítico da revista Playboy e diretor de filmes pornôs, o que, para a maioria das pessoas, não combina com tamanho eruditismo. Pois ele foi corajoso e mostrou que é possível tal conjunção. Os escreviventes não deixaram barato e esquentaram o debate.

Acreditamos muito na importância dessa atividade, não somente como incentivo para o tema da escrita, como para um crescimento nosso, uma troca de experiências muito salutar, num espaço para discutir um assunto evitado por todos, mas presente na vida de todos. Durante a conversa, era possível ver muitos escreviventes anotando, rabiscando, criando já.


Veja no relato do sexto encontro alguns comentários dos escreviventes a respeito da conversa com os convidados.


NOTAS:

Glauco Mattoso: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/index5.html. "Glauco Mattoso é poeta, ficcionista, ensaísta e articulista em diversasmídias. Pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva (paulistano de 1951),o nome artístico trocadilha com "glaucomatoso" (portador de glaucoma,doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até acegueira total em 1995), além de aludir a Gregório de Matos, de quem éherdeiro na sátira política e na crítica de costumes."

Donny Correia: http://www.germinaliteratura.com.br/dcorreia.htm. Poeta, tradutor e videomaker. Nasceu em São Paulo, em 1980. Morou em Londres entre 2000 e 2003, onde editou uma coluna de entrevistas no jornal Brazilian News. Publicou o livro de poemas O eco do espelho (2005). Atualmente, é coordenador cultural da Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.


Valter José: Doutor em Filosofia pela USP, dirigiu filmes pornôs na década de 1990 e foi crítico da revista Playboy.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

PILLOW BOOK (O livro de cabeceira)

Por Bruna Nehring

Nagiko, desde sua primeira infância, foi criada com a obsessiva valorização do “toque” físico e erótico que pincéis, peles, tintas e caligrafia DEVIAM exercer. Ela fez evoluir um relacionamento emocional com seu pai, quase incestuoso, a partir do momento em que aprendeu com ele o toque do corpo, da pele, da saliva, do cheiro das tintas e o da pele que se modifica após a escrita. A caligrafia, na forma como lhe foi ensinada, extrapolava a arte como arte, carregada no erotismo do toque (lamber a pele, o pincel, a tinta, cheirar a tinta e novamente lamber a pele após ter sido escrita, como vimos o pai ensinar, não com gestos lúdicos ou profissionais, mas com um erotismo exacerbado).

Querer vingar o pai foi – também – a forma que ela procurava para libertar-se dele. Há um momento em que ela, criança, percebe que o pai também usava sexualmente os “mensageiros”. Desencantada pelo pouco caso que o marido dava às suas preferências sexuais (o incêndio dos papéis que agora passa a lhe parecer sacrilégio), ela foge de Kyoto - cidade de templos e religião, sim, mas principalmente de indústrias áridas – para Hongkong. Por que Hongkong? Ainda não é China na intenção do cineasta. É lá que surge em Nagiko a tentativa de cosmopolizar-se, aprender outros idiomas, “caligrafar” - como redescoberta de arte pura - em outras línguas. Entrando no “mundo”, (Hongkong era para ela o mundo no sentido internacional) ela está decidida a liberar-se daquela opressiva obsessão: confundir-se com seres humanos “estrangeiros” que trabalham e produzem, mas que mantém no íntimo (ela acha) o prazer daquela arte como mera arte. Os telefones, a datilografia em ideogramas (máquina complicadíssima que acaba na privada), os bares noturnos. Duvidosa é a existência de bares – ou outro tipo de locais – onde há espaço, e clientela, para a pintura de corpos. Poderia ser um bordel: lá tudo é permitido, bastaria levar seu próprio kit...

É lá que Nagiko parece querer abstrair-se do seu prazer pessoal em ser caligrafada, para começar a querer ver (ela é voyeur sim...), descobrir e “sentir” se os outros exalariam o mesmo prazer sexual ao serem caligrafados por ela ou por outrem. Para fazer isso, ela começar a se deixar caligrafar por escrevinhadores (para tentar “congelar” seu hábito de prazer), até encontrar Jerome, que primeiro ela rejeita, desprezando a qualidade de sua pele, para depois aceitar o desafio do jovem inglês, intrigado por aquela exaltação. Raça dominante, num minúsculo território de cultura anônima depois de centenas de anos de protetorado inglês, Jerome, tão jovem, abre mão de sua superioridade ancestral e se ajoelha perante aquela arte versátil, sensual, arrebatadora. É aí que o amor carnal, numa seqüência de imagens eróticas, dignas de kama-sutra-ad-infinitum, irrompe de forma tão definitiva que veste-se de sentimento, de amor, de espiritualidade. É lá que adquirem significado as cenas de carne jogada ao lixo: primeiro como rejeição da carne (não da pele), inapta à arte, e depois como obliteração dos prazeres da carne suplantados pela ascensão do amor às mais altas esferas do romantismo. Naquela rendição incondicional, Jerome chega a prestar-se como serviçal, levando os textos dela a editores que tinham o hábito, como o pai dela, de usar sexualmente os mensageiros.
Uma vez que a ligação carnal dos dois já se havia transformado em sublimação, e uma vez que Jerome estava sendo usado sexualmente fora do amor de Nagiko, estabelece-se o CIÚME: por ciúme, ELA, para puni-lo, entra com a prostituição caligráfica, ou seja, volta ao status quo de seu prazer individual em ser caligrafada por qualquer um; enquanto ELE entra com a divulgação de seu ciúme e, envergonhado, com o suicídio.

O cineasta poderia ter evitado a menção de Shakespeare: as pílulas mortíferas, fornecidas por um amigo ocasional, teriam sido eficazes sem semear no íntimo do espectador a expectativa de um suicídio a dois, banalizando naquele momento uma estória que até aquele momento estava sublimada por uma cultura acima de qualquer sugestão ocidental. Resta a ver se o cineasta o fez por livre e espontânea vontade ou se a “citação” consta do livro (diário) da autora. Se esta última hipótese é a verdadeira, poderia ela ser atribuída à vontade de Nagiko de ocidentalizar-se? Aquela vontade era tão forte assim? Se era, está explicada a ansiedade dela de livrar-se de um prazer sexual tão oriental. Entretanto a forma como a tragédia shakespeariana entra no filme soou barato.
Mais momentos críticos do filme como arte cinematográfica: ele poderia ter terminado no enterro de Jerome, na conversa surda, inútil e leviana entre uma mãe-muito-britânica-dona-do-lugar-e-muito-pouco-mãe-de-Jerome, com uma Nagiko oriental, sim, mas agora vazia de emoções. Também a estória dos demais livros e das demais imagens - ilustrativas de uma cultura internacionalmente ainda abstrata - tornou-se um peso que não acrescentou à mensagem intrínseca do filme, cujo sentido intimista correu o risco de perder-se no prolixo que foi, em termos artístico-cinematográficos para nossa era e para nossa ocidentalidade.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Para Eros, com saudades... (o Viagra desnecessário)

Por Roberto Dupré

Terror diante da morte do corpo.

Mas eis que ele morre e percebo a beleza do espírito.
Posso olhar o mundo com outros olhos.
Confesso que sinto saudades; melhor ainda: sinto falta do prazer.

Mas vejo como é bom afagar-te com o tato
Vejo como é bom o contato da tua pele.
O tempo poupou-nos.
A mim, os sentidos
A ti, toda a beleza
E só agora, no fim da vida,
coberto de neve,
eu que sempre acreditei possuir-te
Agora, aperreado do instinto
mas com o coração em chamas, posso, enfim
Ter-te.

Primavera de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

OFICINA DE ESCRITA E LEITURA PARA O COTIDIANO
por Karen Kipnis

A proposta da oficina é incentivar jovens e adultos a produzir textos e a refletir sobre sua maneira de escrever. Neste sentido,a oficina desmistificará o ato da escrita transformando-a num processo centrado na reflexão sobre o assunto, sobre a forma textual adotada, sobre o papel do leitor e sobre o encadeamento das idéias.

Aprendendo a escrever melhor e a ler mais crítica e atentamente, é reforçada nos participantes a sua cidadania e sua auto-estima, permitindo que atuem mais ativamente na sociedade.
O Escrevivendo existe há três anos na Casa das Rosas- Espaço Haroldo de Campos de Poesia eLiteratura- e também já foi ministrado durante um ano na Biblioteca Temática de Poesia Alceu Amoroso Lima. Como resultado, somos uma espécie de família hospitaleira que adora receber novos escreviventes.

A partir de agosto de 2008, passei de mediadora a coordenadora do projeto Escrevivendo. Como mediadores, alunos de licenciatura da Fe/USP (Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa- em parceria com a Professora Doutora Neide Luzia de Rezende). Desta forma, demos um passo em direção à grande demanda por oficinas de escrita e leitura em São Paulo.

Quanto à interface para a blogagem, desenvolvo um projeto de pesquisa e pretendo, neste trabalho experimental com o blog - ferramenta de novas tecnologias de informação e comunicação- em parceria com a comunidade CIAM , de Marilia, verificar se será efetivo o uso da blogagem tanto entre mediadores e redatores participantes desta oficina quanto entre possíveis escreviventes que não possam estar presentes fisicamente conosco.
** Ao lado, poderão ser visitados outros blogs do Projeto Escrevivendo.

Bem-vindos!
Karen Kipnis

J.L.Borges e algumas de suas classificações

Postado por: Karen Kipnis

El idioma analítico de John Wilkins [fragmento]

“Esas ambigedades, redundancias y deficiencias recuerdan las que el doctor Franz Kuhn atribuye a cierta enciclopedia china que se titula _Emporio celestial de conocimientos benevolos_. En sus remotas paginas esta escrito que los animales se dividen en
(a) pertenecientes al Emperador,
(b) embalsamados,
(c) amaestrados ,
(d) lechones,
(e) sirenas,
(f) fabulosos,
(g) perros sueltos,
(h) incluidos en esta clasificacion,
(i) que se agitan como locos,
(j) innumerables,
(k) dibujados con un pincel finisimo de pelo de camello,
(l) etcetera,
(m) que acaban de romper el jarron,
(n) que de lejos parecen moscas.

El Instituto Bibliografico de Bruselas tambien ejerce el caos: ha parcelado el universo en 1000 subdivisiones, de las cuales la 262 corresponde al Papa; la 282, a la Iglesia Catolica Romana; la 263, al Dia del Se~or; la 268, a las escuelas dominicales; la 298, al mormonismo, y la 294, al brahmanismo, budismo, shintoismo y taoismo. No rehusa las subdivisiones heterogeneas, verbigracia, la 179: "Crueldad con los animales. Proteccion de los animales. El duelo y el suicidio desde el punto de vista de la moral. Vicios y defectos varios. Virtudes y cualidades varias".

Jorge Luís Borges

3º encontro - Breve explicação de Karen

No terceiro encontro do módulo 'Escrevivendo Memórias Eróticas'(25/10), ministrado por Loreta e Mafuane, não resisti... e apareci. Alef, para matar um pouco da saudade que sinto dos escreviventes ( até a Sandra do Textando 2005 estava lá!); Beit, para ver como correriam as discussões sobre o filme O Livro de Cabeceira (1995- inspirado no diário de Sei Shonagon) , de Peter Greenway.
Durante os comentários, a outra Sandra, a Schamas, disse estar surpresa com o 'casamento' entre o filme escolhido para a discussão e o tema deste Escrevivendo: o erotismo. Então, acabei revelando que este último módulo de 2008 foi pensado a partir deste filme, dando continuidade aos módulos Memórias e Memórias de Amor.
Assim como foi para o escritor e poeta Haroldo de Campos (segundo Maria Esther Maciel), Greenway é também meu cineasta contemporâneo favorito.
Há poucos meses, Maciel ( professora de Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da UFMG) esteve na Casa das Rosas e ministrou um curso sobre este diretor e suas obras. Ao rever parte do filme em questão, reencontrei belas reflexões que adoraria compartilhar em nossa oficina de leitura e escrita.
Como esta é uma breve explicação, vou parando por aqui, mas não sem antes deixar algumas indicações para leituras complementares:
1- A memória das coisas- ensaios de literatura, cinema e artes plásticas, de Maria Esther Maciel (v. bibliografia).
2- http://www.tulselupernetwork.com/basis.html( um trabalho multimídia interessantíssimo)
3- O idioma analítico de John Wilkins, de J.L. Borges
4- http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2499,1.shl(sobre outras 'listas literárias')
Sábado, 08/11, teremos um debate entre os poetas Glauco Mattoso e Donny Correa, além da participação do filósofo e especialista em filmes "B", Valter José, sobre erotismo & (ou versus) pornografia .
Até lá,
KK

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Quarto encontro (01-11-2008)

Amigos queridos,

Já chegamos à metade deste nosso módulo Escrevivendo Memórias Eróticas, que a cada dia fica mais interessante, pelo menos para nós, mediadoras. Esses dias, passando pelo blog da Sandra Schamas, reli o texto "Orgia literária ou prazeres do texto grupal" e me emocionei novamente. Trata-se de texto de transição entre o módulo anterior - Escrevivendo Memórias de Amor - e este. Acessem: http://sschamas.blogspot.com/ e deleitem-se.

Hoje foi dia de leitura das últimas produções, de compartilhar textos dos escreviventes. Adoramos esse momento, pelo qual esperamos ansiosamente, roendo as unhas, ainda mais para saber o que vai sair da proposta feita. Alguns textos pudemos conhecer durante a semana, uma vez que muitos escreviventes conseguiram fazer sua primeira versão e nos mandar por e-mail. Ainda assim, aguardávamos a leitura deles em grupo e as reações de sua primeira recepção. Tal momento é impactante e único.

Antes das leituras, porém, nossas preliminares ficaram a cargo do Decamerão (1), de Boccaccio. Durante a semana, os escreviventes puderam ler a novela que selecionamos (Primeira novela, terceira jornada, Neífile), prestando atenção não somente ao conteúdo dela, mas a sua linguagem, à forma como foi escrita. O que fizemos hoje com o texto foi, de forma rápida (uma rapidinha, como sempre...), ler alguns trechos mais calientes, satíricos, e discutir a linguagem velada do texto, escrito entre 1348 e 1353. Em geral, ouvimos dos participantes que se tratava de texto bastante erótico, mas que dizia tudo sem dizer nada. Sua opinião foi de que pornográfica mesmo só havia uma passagem:

(...) pois, antes de se afastarem dali, mais de uma vez elas quiseram constatar como o mudo sabia cavalgar. (p. 121)

Um dos escreviventes, a Bruna, nos chama a atenção para o fato de, nesse trecho, o mudo satisfazer as duas freiras ao mesmo tempo:

"As duas jovens investigaram bem, por todos os lados; comprovaram que de nenhuma parte podiam ser vistas; a mais audaciosa, que iniciara a conversa a respeito de Masetto, despertou-o; e ele logo se pôs de pé; a freira segurou uma de suas mãos; fez-lhe algum carinho; e ele rindo, de tempos a tempos, como se fora um perfeito idiota, deixou-se conduzir ao caramanchão, onde, sem ser muito empenhado, fez o que ela queria que ele fizesse. A jovem, como companheira leal, assim que recebeu o que queria receber, cedeu seu posta à outra; e Masetto, mesmo continuando a parecer simplório, fez a vontade das duas; pois, antes de se afastarem dali, mais de uma vez elas quiseram constatar como o mudo sabia cavalgar. Em seguida, ambas, conversando a esse respeito, reconheceram que aquilo de fato era coisa deliciosa - e muito mais deliciosa do que tinham ouvido afirmar." (p. 121)

Entretanto, nossos participantes não chegaram a apontar elementos do texto que ilustrassem aquele dizer velado, o que, após provocá-los e deixá-los com a pulga atrás da orelha, revelamos. Trata-se de algumas passagens simples, como:

1. "(...) a freira segurou uma de suas mãos; fez-lhe algum carinho; e ele rindo, de tempos a tempos, como se fora um perfeito idiota, deixou-se conduzir ao caramanchão, onde, sem ser muito empenhado, fez 0 que ela queria que ele fizesse. A jovem, como companheira leal, assim que recebeu 0 que queria receber, cedeu seu posta à outra; e Masetto, mesmo continuando a parecer simplório, fez a vontade das duas; pois, antes de se afastarem dali, mais de urna vez elas quiseram constatar como o mudo sabia cavalgar. Em seguida, ambas, conversando a esse respeito, reconheceram que aquilo de fato era coisa deliciosa - e muito mais deliciosa do que tinham ouvido afirmar. Dali por diante, pois, sempre aguardando 0 momento azado, passaram a divertir-se com o mudo." (p. 121)

2. "(...) concordaram em que seria melhor elas partilharem do generoso poder de Masetto. (p. 122)."

3. "Então, com unânime consentimento, pondo-se às claras aos olhos de todas o que por todas fora praticado as escondidas (...)". (p. 122)

Concluímos essa discussão conversando sobre as potencialidades do leitor, que é capaz de captar muito mais do que está escrito no texto, dependendo, em grande parte, de suas experiências e de seu repertório. Dessa forma, na linguagem deve estar a consideração do autor pelo seu leitor, o qual não deve nunca ser menosprezado.

Voltando às leituras das produções dos escreviventes, estas se estenderam até o fim do encontro, entremeadas de muita polêmica. O primeiro texto lido, o do Paulo, gerou muitos comentários acerca da linguagem erótica ou pornográfica. Houve muitas críticas, mas os escreviventes se lembraram de que 1. o Escrevivendo é um espaço para se discutir a linguagem escrita e 2. a recepção dos leitores é muito individual. "Quem dá a medida do erótico ou do pornográfico somos nós mesmos, de acordo com nossos valores, nossas experiências", disse a Mafuane; assim, a linguagem obscena pode agradar a leitores que não se contentam com a sutileza de Tolstói, por exemplo, em Anna Kariênina. Após a reescrita, cremos que o Paulo autorizará a publicação de seu texto aqui no blog.

Quanto à proposta (v. "Segundo encontro", nesta seção), parece que, no geral, conseguimos nos fazer entender. Temos de levar em consideração que muitos de nossos escreviventes assumem-se "rebeldes", recusando-se a qualquer tipo de engessamento, mesmo que seja somente uma sugestão. Se não houvesse proposta nenhuma, apostamos, seríamos questionados sobre ela. Ai, esses autores...

Comentários dos escreviventes sobre os quais vale a pena se pensar:

"O pornográfico fere".

"Os poetas são mais eróticos".

Anotamos muitos dos comentários aos textos, mas pensamos ser melhor postá-los à medida que os textos forem publicados aqui, uma vez que vocês que estão lendo este texto não teriam os textos citados em mãos - ou em tela...

No próximo encontro, receberemos os valiosos Glauco Mattoso, Donny (poetas) e Walter José (filósofo e cineasta) para um debate sobre erotismo e pornografia. Será permitido levar convidados. Durante a semana, os escreviventes terão contato com a obra desses importantes artistas e já formularão questões para as provocações. Nós, mediadoras, estamos ansiosas e vamos tietar!!!!

Abraço a todos,

Loreta

1. BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Nova Cultural, 2003. p.119-123.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Terceiro encontro (25-10-2008)


Trate-me como a página de um livro.
Nagiko, em O livro de cabeceira


Caros amigos,

No encontro deste sábado estivemos acompanhados da obra-prima que é o filme O livro de cabeceira (Pillow book, 1996), de Peter Greenaway (roteiro e direção). Não temos pretensão nenhuma de resumi-lo aqui, mas apenas de citar seus grandes temas e relatar o porquê dele no Escrevivendo Memórias Eróticas e como foi sua recepção em nossa turma.

O livro de cabeceira tem como protagonista uma japonesa cuja maior obsessão é a escrita e tudo que a envolve: textura do papel, seus odores, a espessura do pincel (utilizado na escrita oriental) e a tinta. Tudo pareceria muito comum e corriqueiro se a linda menina não escrevesse em corpos, a partir de um ritual ensinado a ela por seu pai, aos 5 anos de idade. Aos 5 anos também ela conhece o O livro de cabeceira de Sei Shonagon, o qual completaria mil anos quando ela completasse 28.

A película é mais importante para o Escrevivendo Memórias Eróticas do que podem pensar os escreviventes. Karen Kipnis, nossa coordenadora, revelou-lhes que o curso, na verdade, foi feito para o filme (ver coluna ao lado esquerdo), o que parece bastante apropriado, uma vez que estão em jogo a escrita e o sensual, corporal, carnal, erótico - parfait mélange.

Após a exibição do filme para a turma, fizemos um rapidíssimo intervalo e passamos a discutir o filme. Antes de dar nossa leitura, quisemos, como sempre, ouvir os escreviventes, cuja sensibilidade e senso crítico são tão apurados. Muitos gostaram dele, muitos não gostaram, mas certamente todos o estranharam muito. Posto que o estranhamento (ostraiênie) - como diria Chklóvski (1) em seu ensaio "A arte como procedimento" (2) -, é próprio da arte, teríamos, então, de saber por meio de que elementos o diretor o logrou, o que levaria também à discussão sobre os elementos eróticos do filme.

Os comentários, como sempre, não seguem nenhuma ordem especial, pois vai se dizendo aquilo que toca mais a fundo cada participante; cremos, entretanto, que, no geral, deram conta dos elementos mais importantes do filme, quais sejam - no âmbito mais superficial - a tradição oriental x a efemeridade ocidental; o valor da caligrafia para as escritas orientais; o preconceito contra a literatura e a dificuldade de publicar a própria obra. No âmbito mais profundo, surgiram comentários sobre a relação sensorial/ sensual entre a obsessão pelo corpo e pela escrita/ caligrafia, esta remetendo ao sentido da visão, e o papel, ao do tato e do olfato. Ambos, corpo e caligrafia, sempre estiveram ligados ao sagrado, ao Bom e ao Belo, daí a coerência e, até mesmo, necessidade de uni-los ("Há os prazeres da carne e os da literatura; eu tive o prazer de desfrutar os dois", diz Nagiko). O escrever na alma é completamente distinto, e ainda mais sério do que tingir o corpo com letras ("Escrever sobre o amor é encontrá-lo", haja vista que "Tudo se acaba ou se consome, menos o amor", diz Nagiko).














Além disso, refletimos também sobre a linguagem cinematográfica do filme. Lendo o ensaio de Maria Esther Maciel (3) (ver em http://www.revista.agulha.nom.br/ag23greenaway.htm), nós, mediadoras, chamamos a atenção dos escreviventes também para a busca de uma nova narratividade, buscada por Peter Greenaway, o que se mostra muito pertinente a nosso tema - memórias. Na narração, ainda mais no caso de um diário, busca-se selecionar fatos da memória e organizá-los de certa forma, entretanto ninguém tem exato controle sobre como funciona tal processo de seleção dos eventos experienciados. É com as listas - gênero que aparece insistentemente em O livro de cabeceira e em outras obras de Greenaway - que o cineasta, dialogando com Borges, parodia a tentativa de cosmogizar o caos - natural - que são a memória e o mundo "real". As listas, portanto, são um sucedâneo à narração tradicional, porém, como é impossível aquela organização, todas as listas resultam fantásticas. Segundo Maciel, trata-se não de "classificar racionalmente o universo, mas de revelar - através da ficção - o caráter arbitrário de todos os sistemas de classificação."
Logo mostrou-se ser impossível esgotar as leituras do filme em meia hora (!), mas, como dissemos, os elementos primordiais foram contemplados, os quais, certamente, darão conversa nos textos que aguardamos ansiosas até a semana que vem (para lembrar a proposta, ver postagem "Segundo encontro"). Havíamos planejado o comentário de uma novela do Decamerão também, mas ficou para a próxima.

1. CKLÓVSKI, Víktor. A arte como procedimento. In: Teoria da literatura - os formalistas russos. São Paulo: Globo, 1971. A tradução para o português é péssima, portanto sugiro ou a leitura no original russo ou a) em francês; b) em espanhol e c) em inglês, só que o título do livro muda conforme a língua, e o conteúdo da coletânea também, uma vez que título e seleção dependem do editor.
2. Forma que a arte tem de tornar “estranho” aquilo que tem uma existência comum nascido de um processo de automatização (processo que se confunde com a banalização do objeto de arte, que só por um outro processo de renovação poderá proceder a um renascimento da arte).
3. Professora de Teoria Literária da UFMG.

sábado, 25 de outubro de 2008

Sobre ' O Livro de Cabeceira', inspirado no Diário de Sei Shonagon

"Papel é pele e pele é papel, letra é imagem e vice-versa, erotismo e intelectualidade não se dissociam, tinta e sangue também não; o tradutor e o pai são um só e Nagiko é, sob muitos aspectos, sua própria versão de Sei Shonagon. É um filme digno de muitas visitas e aberto a várias leituras, como todo bom livro."

Fragmento do blogue 'O cinema do mundo', de Rhadi Nascimento

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Que situação...



Quem assistiu à última peça da Companhia Sutil - Educação Sentimental do Vampiro, de Dalton Trevisan - deve ter rido à bessa com essa cena, interpretada pelo Guilherme Weber. Trata-se de uma esposa que faz de tudo para o marido "comparecer", mas nem isso que vemos na imagem funciona... Hehehe...


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Amor - pois que é palavra essencial

Este poema de Carlos Drummond de Andrade é uma ode ao Amor (Eros) e dialoga com nossa primeira proposta de texto para o Escrevivendo Memórias Eróticas. Vejam que o eu lírico exalta o Amor e pede que lhe envolva a canção e lhe guie o verso:

AMOR - POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL (1)

Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

1. ANDRADE, Carlos Drummond. O amor natural. São Paulo: Círculo do Livro, 1992.

Budapeste

Trechos do romance Budapeste (1) de Chico Buarque (Leia o relato do segundo encontro, em "Encontros") .


Kriska se despiu inesperadamente, e eu nunca tinha visto corpo tão branco em minha vida. Era tão branca toda a sua pele que eu não saberia como pega-lá, onde instalar as minhas mãos. Branca, branca, branca, eu dizia, bela, bela, bela, era pobre meu vocabulário. Depois de contemplá-la um tanto, desejei apenas roçar seus seios, seus pequenos mamilos rosados, mas eu ainda não tinha aprendido a pedir as coisas. Nem ousaria dar um passo sem o seu consentimento, sendo Kriska uma amante da disciplina. (...)
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Aí ela tirou pela cabeça o vestido tipo maria-mijona, não tinha nada por baixo, e fiquei desnorteado com tamanha brancura. Por um segundo imaginei que ela não fosse uma mulher para se tocar aqui ou ali, mas que me desafiasse a tocar de uma só vez a pele inteira. Até receei que naquele segundo ela dissesse: me possui, me faz amor, me come, me fode, me estraçalha, como será que as húngaras dizem essas coisas?” (...)

1. BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Segundo encontro (18-10-2008)

Caros visitantes,
Eu e Mafuane não hesitamos em dizer que foi este o melhor encontro que experienciamos no Escrevivendo. Como disse a Mafu: "Ficou tudo redondo, lindo..." Neste relato que irão ler, saibam que se trata apenas de uma tentativa de representar a memória desse momento tão especial para nós.
Dia frio e nublado. Iniciamos nosso encontro, porém, inspirados por Eros, Psique, Afrodite e Marte, o que não poderia resultar em outra coisa senão muito ânimo e calor.
Após as devidas acomodações, troca de abraços e beijinhos habituais entre os participantes, perguntamos quem já havia visitado o blog e nos certificamos de que todos haviam recebido minhas sugestões a respeito da primeira proposta. Ficou combinado que não faríamos a troca em duplas desse texto, e sim iríamos realizar mais conferências para a próxima proposta, que não necessariamente anularia aquela, aliás. Todos responderam afirmativamente, então passei ao esclarecimento de uma questão recorrente em todos os textos, a qual eu já havia percebido quando da leitura que os autores haviam realizado no dia da produção: como a proposta era dirigir-se a Eros, pedindo-lhe inspiração, etc. (ver neste blog, à esquerda), os autores teriam de usar, obrigatoriamente, alguma forma de tratamento, exigência do gênero (mais ou menos como uma ode). Todos, sem exceção, misturaram as formas pronominais referentes ao tu, ao vós e ao você. A todos respondi individualmente, mas o que reforcei como um todo foi o fato de que, se essa mistura ocorrer, ela deve ser consciente, servir a um efeito de sentido diferente. Como exemplo, apresentamos o texto da Bruna (o primeiro postado aqui). Após conversarmos a respeito da adequação dos pronomes (tu, teu, tua, ti, etc., tens, podes, fazes; vós, vosso, vosso, vos, tendes, podeis, fazeis, etc.; você, seu, sua, tem, pode, faz, etc.; senhor = você, na conjugação), ela resolveu tratar Eros por "tu" durante todo o texto, apenas modificando seu tratamento na última frase, pois, uma vez conhecido e íntimo, o tratamento para com o ser amado muda. Perfeito!
A discussão sobre os pronomes estendeu-se a outros do português, a outras línguas, tendo sido discutidas várias práticas sociais e situações de comunicação. Como vêem, tentamos ao máximo não destratar nossa língua com mais gramaticalismo vazio e sim pensar a gramática na construção do texto, como os recursos estilísticos dos gêneros, dos quais fala Mikhail Bakhtin (1).
Logo depois, Mafuane fez a contação da história de Eros e Psique, seu nascimento e sorte. Foi emocionante e esclarecedora, tendo sido seguida de uma apresentação de slides muito sintética sobre o mesmo tema, rica em muitas imagens interessantes, como a do falo de Príapo, por exemplo (ver em "Leitura complementar", Eros x Príapo). Mafuane nos trouxe alguns livros interessantes, os quais constam de nossa bibliografia complementar.
Fizemos um breve intervalo e voltamos ao som de três canções: "Tango de Nancy", de Chico Buarque e Edu Lobo; "Explode coração", de Gonzaguinha, e "Sexo e amor", de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor (as três letras já estão aqui e, em breve, os áudios também estarão. Ver também em "Leitura complementar" a crônica de Arnaldo Jabor que suscitou a canção de Rita Lee). Fizemos a interpretação e análise de texto de "Explode coração", destacando as imagens que o compositor construiu. Eu e Mafuane falamos o menos possível: sempre tentamos ouvir mais que falar, embora tenhamos feito nossas provocações e mediações, dando o fecho quando necessário.
Após a introdução, com a música "Sexo e amor" (que foi eleito o tema deste blog), lemos o poema de Drummond "Amor - pois que é palavra essencial" (v. em "Leitura complementar"), que dialoga com a mitologia grega e com Platão, além de ser uma ode, como a que pedimos aos escreviventes.
Já estávamos, então, prontos para iniciar nossa conferência sobre o Banquete, de Platão. Mafuane fez um resumo do discurso de Aristófanes, somente para aquecer, uma vez que todos tiveram o texto em mãos durante toda a semana, para ler, anotar e refletir. Além das provocações do próprio Platão (v. alguns trechos em "Leitura complementar"), levamos algumas definições de dicionário (2) de erotismo e pornografia, bem fechadonas, a fim de as abrirmos. O resultado foi um qüiproquó daqueles, uma delícia. Eu e Mafu intervíamos aqui e ali, esclarecíamos, provocávamos mais, mas a cena era dos escreviventes. Enquanto rolava o bate-boca, muita gente anotava, rabiscava.
Uma das provocações foi a leitura de Mafuane de dois trechos de Budapeste (3), um de uma descrição mais idealizada e outra mais erotizada. Da primeira vez que Mafuane os leu, fê-lo como se os trechos fossem de autores diferentes, e deu às leituras entonações bem destoantes; da segunda vez, quando os escreviventes perceberam-se ludibriados, foi feita a releitura, em tom mais condizente com o texto integral. Objetivo: mostrar que, no texto, deve-se considerar o todo, porque nem sempre os fragmentos conseguem representá-lo. A linguagem artística é complexa, não se podendo simplificá-la com títulos e rótulos. Erótico ou pornográfico? Sabe-se lá!
Deu 13h35 e, já atrasadas, passamos nossa segunda proposta de produção de texto, não sem antes distribuir o material que eles teriam de ler durante a semana, para a próxima conferência, além daquele que eles pesquisam sempre por conta. Pedimos que elaborassem um texto discutindo o que é (natureza, essência), para que serve (prática social, situação de comunicação) e como se constrói (linguagem, escolhas lingüísticas, imagens) um texto erótico e/ou pornográfico. Eles poderão acrescentar experiências, memórias em geral (de vida, de livros, de filmes, etc.). Esperamos que daí saia um texto híbrido de estrutura argumentativa e narrativa. Não especificamos o gênero, o que vier será bem-vindo.
NOTAS:
1. BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
2. HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
3. BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Companhia das Letras, 2003

Poemas incandescentes

Por Roberto Dupré
"O sexo é algo que aguça e move tudo em nós." Aretino

I

No abraço do reencontro
Com o coração tonto de prazer e os corpos em chama,
Lutaram tanto e com tamanho empenho que,
Quando, finalmente, foram para a cama
Não havia mais nada a fazer

II

Ismália, a que da janela via duas luas ( uma, no céu; outra, no mar)
Nua, sob o véu de noiva,
Quando viu o firmamento pela primeira vez
Nem precisou olhar o céu

"Amor é prosa, sexo é poesia"

Em nosso primeiro debate sobre amor idealizado, erotismo e pornografia, discutimos o texto Banquete, de Platão e ouvimos três canções: "Tango de Nancy", de Chico Buarque e Edu Lobo, "Explode coração", de Gonzaguinha, e "Sexo e amor", de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor (v. "Músicas para amar").
Postamos agora a crônica de Arnaldo Jabor intitulada "Sexo é prosa, amor é poesia", na qual beberam Rita Lee e Roberto de Carvalho para compor sua canção (falaremos mais sobre intertextualidade adiante). Arnaldo Jabor também assina a obra, transpondo sua crônica para o gênero da canção. Propomos a leitura, a reflexão e o debate desse texto. Podem comentar no blog também! Mulheres, como esse texto foi escrito sob o ponto de vista do homem, dêem o olhar feminino a respeito!
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Por Arnaldo Jabor,
Sábado, fui andar na praia em busca de inspiração para meu artigo de jornal. Encontro duas amigas no calçadão do Leblon:
- Teu artigo sobre amor deu o maior auê... – me diz uma delas.
- Aquele das mulheres raspadinhas também... Aliás, que você tem contra as mulheres que barbeiam as partes? – questiona a outra.
- Nada... – respondo. – Acho lindo, mas não consigo deixar de ver ali nas partes dessas moças um bigodinho sexy... não consigo evitar... Penso no bigodinho do Hitler, do Sarney... Lembram um sarneyzinho vertical nas modelos nuas... Por isso, acho que vou escrever ainda sobre sexo...Uma delas (solteira e lírica) me diz:
- Sexo e amor são a mesma coisa... A outra (casada e prática) retruca:
- Não são a mesma coisa não...
Sim, não, sim, não, nasceu a doce polêmica ali à beira-mar. Continuei meu cooper e deixei as duas lindas discutindo e bebendo água-de-coco. E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito. As duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa.O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.
O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.
Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.
Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se não for eterno, não era amor” (Nelson Rodrigues). O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR. O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo. O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... e-mails de quem souber para o autor.