Após a exibição do filme para a turma, fizemos um rapidíssimo intervalo e passamos a discutir o filme. Antes de dar nossa leitura, quisemos, como sempre, ouvir os escreviventes, cuja sensibilidade e senso crítico são tão apurados. Muitos gostaram dele, muitos não gostaram, mas certamente todos o estranharam muito. Posto que o estranhamento (ostraiênie) - como diria Chklóvski (1) em seu ensaio "A arte como procedimento" (2) -, é próprio da arte, teríamos, então, de saber por meio de que elementos o diretor o logrou, o que levaria também à discussão sobre os elementos eróticos do filme.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Terceiro encontro (25-10-2008)
Após a exibição do filme para a turma, fizemos um rapidíssimo intervalo e passamos a discutir o filme. Antes de dar nossa leitura, quisemos, como sempre, ouvir os escreviventes, cuja sensibilidade e senso crítico são tão apurados. Muitos gostaram dele, muitos não gostaram, mas certamente todos o estranharam muito. Posto que o estranhamento (ostraiênie) - como diria Chklóvski (1) em seu ensaio "A arte como procedimento" (2) -, é próprio da arte, teríamos, então, de saber por meio de que elementos o diretor o logrou, o que levaria também à discussão sobre os elementos eróticos do filme.
sábado, 25 de outubro de 2008
Sobre ' O Livro de Cabeceira', inspirado no Diário de Sei Shonagon
Fragmento do blogue 'O cinema do mundo', de Rhadi Nascimento
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Amor - pois que é palavra essencial
AMOR - POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL (1)
Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
1. ANDRADE, Carlos Drummond. O amor natural. São Paulo: Círculo do Livro, 1992.
Budapeste
Kriska se despiu inesperadamente, e eu nunca tinha visto corpo tão branco em minha vida. Era tão branca toda a sua pele que eu não saberia como pega-lá, onde instalar as minhas mãos. Branca, branca, branca, eu dizia, bela, bela, bela, era pobre meu vocabulário. Depois de contemplá-la um tanto, desejei apenas roçar seus seios, seus pequenos mamilos rosados, mas eu ainda não tinha aprendido a pedir as coisas. Nem ousaria dar um passo sem o seu consentimento, sendo Kriska uma amante da disciplina. (...)
Aí ela tirou pela cabeça o vestido tipo maria-mijona, não tinha nada por baixo, e fiquei desnorteado com tamanha brancura. Por um segundo imaginei que ela não fosse uma mulher para se tocar aqui ou ali, mas que me desafiasse a tocar de uma só vez a pele inteira. Até receei que naquele segundo ela dissesse: me possui, me faz amor, me come, me fode, me estraçalha, como será que as húngaras dizem essas coisas?” (...)
1. BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Segundo encontro (18-10-2008)
Poemas incandescentes
"O sexo é algo que aguça e move tudo em nós." Aretino
I
No abraço do reencontro
Com o coração tonto de prazer e os corpos em chama,
Lutaram tanto e com tamanho empenho que,
Quando, finalmente, foram para a cama
Não havia mais nada a fazer
II
Ismália, a que da janela via duas luas ( uma, no céu; outra, no mar)
Nua, sob o véu de noiva,
Quando viu o firmamento pela primeira vez
Nem precisou olhar o céu
"Amor é prosa, sexo é poesia"
sábado, 18 de outubro de 2008
Um Cupido Imprudente
Como Eros, amo desmedidamente
Explode Coração
Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar
Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã
Nascendo, rompendo, tomando, rasgando, meu corpo e então eu
Chorando, gostando, sofrendo, adorando, gritando
Eu quero o meu amor se derramando
Tango de Nancy
Quem sou eu para falar de amor
Se o amor me consumiu até a espinha
Dos meus feijos que falar
Dos desejos de queimar
E dos beijos que apagaram os desejos que eu tinha
Quem sou eu para falar de amor
Se de tanto me entregar nunca fui minha
O amor jamais foi meu
O amor me conheceu
Se esfregou na minha vida
E me deixou assim
Homens, eu nem fiz a soma
De quantos rolaram no meu camarim
Bocas chegavam a Roma passando por mim
Ela de braços abertos
Fazendo promessas
Meus deuses, enfim!
Eles gozando depressa
E cheirando a gim
Eles querendo na hora
Por dentro, por fora
Por cima e por trás
Juro por Deus, de pés juntos,
Que nunca mais
Amor e Sexo
Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...
Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!
Eros x Príapo
Príapo
O Eros verdadeiro é o deus do amor no seu sentido integral, que engloba corpo e alma. A atração puramente física é animalesca e não humana. É apenas o bicho que tem o período do cio. O homem e a mulher se amam (ou deveriam se amar!) sempre e em todos os lugares por uma comunhão de sentimentos que transcende o aspecto corporal.
O erotismo, que verdadeiramente funciona e que faz perdurar a atração recíproca por longo tempo, está no olhar apaixonado, na admiração que o amante sente pelas qualidades físicas e espirituais que consegue enxergar na pessoa amada. O erotismo, que realmente e de uma forma mais duradoura estimula o desejo, se encontra na poesia lírica, na pintura, na dança, nos filmes sentimentais, na arte em geral, pois supera o nível do real e penetra no mundo da fantasia, do sonho, do vago sentimento do inacessível.
Por esse prisma, os Cantos de Salomão e a poesia trovadoresca são mais eróticos do que o Kama Sutra. O erotismo está mais no sugerir do que no mostrar totalmente, no claro-escuro, na promessa do idílio, no mistério a ser desvendado, na repetição do ato do amor como se fosse sempre pela primeira vez.
Como diz a poeta Adélia Prado, “erótica é a alma”! Só que conhecer o espírito de alguém é bem mais difícil do que lhe conhecer o corpo. Manuel Bandeira nos oferece uma reflexão interessante a respeito:
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque corpos se entendem; as almas, nem sempre.
E, sobre a renovação do desejo erótico, esta bela imagem do poeta Mário Quintana: “amar é mudar a alma de casa”.
Enfim, o erotismo, entendido como prática do amor num sentido bem geral, é onipresente em qualquer atividade humana bem-sucedida.
A escritora Lygia Fagundes Telles afirma acertadamente: “Vocação é ter a felicidade de ter como ofício a paixão”. Mas é a escritora existencialista francesa, Simone de Beauvoir, companheira do grande poeta-filósofo Jean-Paul Sartre, quem melhor define a essência da relação carnal: “O erotismo implica uma reivindicação do instante contra o tempo, do indivíduo contra a sociedade”.
Referência:
1. D´ONOFRIO, Salvatore. Pequena enciclopédia da cultura ocidental: o saber indispensável, os mitos eternos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Primeiro encontro (11-10-2008)
Hoje teve início mais um módulo do Escrevivendo, este Escrevivendo Memórias Eróticas. Nosso propósito com o presente tema é dar continuidade às discussões do módulo anterior (Escrevivendo Memórias de Amor), uma vez que não apareceram somente discussões e textos a respeito do amor idealizado. Houve muitos textos erotizados, e isso nos chamou a atenção para quais seriam os limites existentes entre amor idealizado, erotismo e pornografia. Pretendemos, então, trazer tal polêmica para cá, sempre visando ao cumprimento da proposta do Projeto Escrevivendo, que é uma só em todos os módulos.
Desta vez estamos ainda mais felizes, porque temos companhia! Além desta turma de escreviventes, há outras duas: uma às quintas-feiras, aqui na Casa das Rosas mesmo, e outra no Museu da Língua Portuguesa (veja o endereço do blog na coluna ao lado). Boa sorte para todos nós!
Pois bem, nosso primeiro encontro teve início com a habitual apresentação do Projeto Escrevivendo - sua proposta e o funcionamento da oficina - , uma apresentação de mim, Loreta, da Mafuane e dos participantes. Nosso público continua bem variado, mas, como todos estão ali buscando refletir sobre sua relação com a escrita - sua e do outro - , a turma logo fica coesa e o ambiente se torna familiar, aconchegante.
Em seguida, falamos um pouco sobre os mitos que cercam o ato de escrever, constantes do livro de Garcez (2004, p. 2-12), quais sejam:
a) escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida e não um dom que poucas pessoas têm;
b) escrever é um ato que exige empenho e trabalho e não um fenômeno espontâneo;
c) escrever exige estudo sério e não é uma competência que se forma com algumas "dicas";
d) escrever é uma prática que se articula com a prática da leitura;
e) escrever é necessário no mundo moderno;
f) escrever é um ato vinculado a práticas sociais.
Fizemos um rápido intervalo e voltamos falando um pouco a respeito de Eros, deus grego do Amor de cujo nome derivam vocábulos como erótico e erotismo. Logo depois, pedimos uma produção inicial, bastante simples - um elogio a Eros -, com a finalidade de 1) ter um primeiro contato com a escrita dos participantes e 2) já introduzir a discussão sobre o Banquete, texto de Platão que é um elogio ao amor. Eu e Mafuane não fizemos nenhuma restrição a respeito do gênero a ser desenvolvido, com exceção de eles terem de se dirigir ao Deus, adorando-o e pedindo-lhe inspiração para os próximos trabalhos. Eles tiveram cerca de 20 min. para realizar a produção, após o que iniciamos a rodada de leituras.
Todos conseguiram realizar a proposta e bem de acordo com o que prevíamos: textos encomiásticos, como as odes. Cremos que Eros tenha ficado muito satisfeito!
Vocês podem conferir os textos na coluna "Nossas memórias" (proposta de 11-10).
Proposta (11-10-2008):
Eros, eu não te conhecia.
Não sabia do teu cabelo liso, negro, comprido o suficiente para recolhê-lo atrás das orelhas.
Bastou eu perceber a intenção do teu olhar: vi teus braços jogados para trás, onde teus dedos, longos e nervosos, se agarraram ao suéter negro, arrancando-lhe as costas e passando-as por cima da cabeça, descompondo-te as mechas.
Por um momento o emaranhado de lã cobriu teu peito, enquanto teus braços continuavam presa daquelas mangas pretas.
Uma mão no ar, depois a outra.
Num segundo, teu tórax nu.
Aí eu soube quem era você.
Encantada com tuas virtudes, me enfraqueci
Deixei-me envolver pelas flechas do Cupido
Fiquei cega e me apaixonei loucamente
O mundo a minha volta parecia não existir
A não ser o mundo que imaginava enxergar
Mas o tempo foi passando,
e aquela paixão que me escravizou
Foi aos poucos me libertando
Os meus olhos foram se abrindo
e aos poucos percebi que não fostes tão bom para mim:
Brincastes com meus sentimentos
e me fizestes sofrer.
No desamor, quis jogar-te meus ressentimentos.
Na reflexão, descobri que a culpa era dos homens
Homens imperfeitos que não sabem cultivar o verdadeiro amor.
Seu poderio é imenso.
Certamente, devemos ao seu talento um milagre: homens – muito racionais, pouco emotivos – e mulheres – sempre movidas pelo desejo – conseguirem viver momentos de amor.
Como somos bilhões de humanos, desentendimentos incontáveis, e o amor é alimento fundamental para a alma, suplico e sugiro:
Contrate assessores, muitos e muitíssimos eficientes assessores!
QUERIDO AMIGO EROS,
Estimo que você esteja em perfeita forma e que todos os seus desejos sejam concretizados.
Aqui, em Coração, tudo continua maravilhoso: filhos, netos, genro e nora na maior harmonia, e suponho que estejam vibrando sob as influências de seu espírito entusiasta, uma vez que são jovens e com filosofia de vida nada parecida com a minha, que para o contexto social atual é considerada retrógrada.
Como é de seu conhecimento, esse assunto é meio tabu para mim. Você conhece bem minha opinião sobre esse tema; continuo afirmando que quando existe amor verdadeiro tudo acontece suave e naturalmente romântico, dispensando estimulantes artificiais,
O que fazer e como decidir? Estou em uma encruzilhada.
Como aproveitar essa oportunidade de, mais uma vez, desfrutar da companhia dos amigos queridos e não compartilhar da leitura dos lindos textos e dos comentários sempre tão interessantes e esclarecedores, por ser um tema que me inibe e constrange?
Foi difícil encontrar uma solução satisfatória para esse impasse, mas a encontrei e tenho certeza de que você e todos os nossos amigos convidados irão aprovar minha decisão.
Amigo, até lá. Beijos e brilho,
Escrevivente Docarmo.
_______________________________________________
e dos ai, ais.
Mestre do encanto
Transmutador de corpos
Desejo aflorado
em todos os sentidos
A irresistível flecha
Que lanças
Põe de joelhos
O mais forte dos mortais
Vences a inteligência,
As diferenças,
A moral
A vós que sois o oposto da morte
Devotamos a efêmera dádiva da vida.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Prazeres da carne e literatura...
que são dignas de confiança:
Os prazeres da carne
E os prazeres da literatura
Eu tive a grande sorte
De desfrutar dessas duas coisas
Da mesma forma"
(Trecho do Diário de Sei Shonagon. Citado no filme: Livro de Cabeceira, de Peter Greenway)
Bibliografia
CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Uso da vírgula. São Paulo: Manole, 2005.
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Ciência e cultura, 24(9), p.803-9, set. 1972.
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de redação - o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MACIEL,Maria Esther.A memória das coisas.Rio deJaneiro:Lamparina editora,2004.
MARTINS, Eduardo. Com todas as letras - o português simplificado. São Paulo: Moderna, 2000.