sábado, 29 de novembro de 2008
Eros, o último que morre
domingo, 23 de novembro de 2008
Sexto encontro (15-11-2008)
sábado, 22 de novembro de 2008
Erotismo em Canova
Trabalhou a convite de mecenas em diversos países europeus, como Alemanha, Inglaterra, Espanha, França, onde recebeu o convite de Napoleão para esculpir sua estátua e a de sua irmã, Paolina Borghese. Existem tradicionalmente anedotas sobre as duas: Canova fez uma escultura em bronze de Napoleão, retratando-o como o Deus Apolo, mas Napoleão não gostou da idéia de ser retratado nu e recusou a obra. Então, Canova levou-a de volta para a Itália, onde foi colocada no pátio do Palazzo de Brera em Milão. Já a escultura de Paolina Borghese (1805-1808), apesar de ela ter pousado seminua, foi aprovada por seu marido, Príncipe Borghese, e está até hoje na Galeria do Palazzo Borghese, em Roma. Dizem que o formato da primeira taça arredondada de champanhe foi moldado no seio dela (na escultura).
Outra obra muito famosa sua é Amore e Psiche*, de 1793, a qual retrata Eros aproximando-se de Psique adormecida para despertá-la com um beijo.
A grande fama de Canova deve-se à sua rejeição aos excessos de musculatura, até então herdados dos escultores gregos, e sua grande mestria na escolha dos mármores mais brancos, sem estrias, arte dificílima, pois os grandes blocos não revelam eventuais defeitos em seu interior.
*Consulte o mito de Psique em Leitura Complementar.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Quinto encontro (08-11-2008)
Maior que o meu, portanto masculino,
ainda que pertença a algum menino,
suado até, por tudo quanto é poro.
Fedido de chulé: nunca inodoro.
Sapato ou bota: em couro nada fino.
Assim, folgado e sádico, o imagino,
igual aos que da infância rememoro.
Mais longo o indicador que o polegar,
na planta é plano, e não do tipo cavo.
Percebem onde, enfim, quero chegar?
O pé que idealizo, beijo e lavo
na língua, no tesão, no paladar,
é aquele que me trata como escravo.
derme de plumas, úmida
suculenta
morfou-se vulva de pedra
glácea
suspiro que seja bélico
suspeito que seja eclipse
som surdo:
música em seu corpo
sem partitura,
gentil veneno sem bula
faca de dois beijos
lânguida lâmina
de pelos e plasmas
túnel de lava faminta
cercada de seixos pudicos
amianto de fogo prata
na sólida disciplina de algoz
prisioneiro de sua pele seda: sou
enforco-me no casulo letal
da mel retina em sua guarda
os emblemas do vício
açoitam a ausência
deslizar de dedos
por quilômetros intensos
de tensão insaciável
de repulsa violenta
carnal
trombetas de mil pontas
dilaceram a libido
e tocam a balada
mordaz de um faminto
que se farta
de agonia
derme de plumas, úmida
suculenta
banquete de orgias gregas
petisco da imagem
só, projetada em vídeo
céfalovirtual
alquimia letal
de ouro e cicuta
fuligem nos
escombros do
b e l o
derramo-me tórrido
no unicorpus: nós
clitóris
ponta de lança
carne letal
broa de sangue
banquete barato
forca
e toda libido
intrínseca
num só silêncio
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
PILLOW BOOK (O livro de cabeceira)
Querer vingar o pai foi – também – a forma que ela procurava para libertar-se dele. Há um momento em que ela, criança, percebe que o pai também usava sexualmente os “mensageiros”. Desencantada pelo pouco caso que o marido dava às suas preferências sexuais (o incêndio dos papéis que agora passa a lhe parecer sacrilégio), ela foge de Kyoto - cidade de templos e religião, sim, mas principalmente de indústrias áridas – para Hongkong. Por que Hongkong? Ainda não é China na intenção do cineasta. É lá que surge em Nagiko a tentativa de cosmopolizar-se, aprender outros idiomas, “caligrafar” - como redescoberta de arte pura - em outras línguas. Entrando no “mundo”, (Hongkong era para ela o mundo no sentido internacional) ela está decidida a liberar-se daquela opressiva obsessão: confundir-se com seres humanos “estrangeiros” que trabalham e produzem, mas que mantém no íntimo (ela acha) o prazer daquela arte como mera arte. Os telefones, a datilografia em ideogramas (máquina complicadíssima que acaba na privada), os bares noturnos. Duvidosa é a existência de bares – ou outro tipo de locais – onde há espaço, e clientela, para a pintura de corpos. Poderia ser um bordel: lá tudo é permitido, bastaria levar seu próprio kit...
É lá que Nagiko parece querer abstrair-se do seu prazer pessoal em ser caligrafada, para começar a querer ver (ela é voyeur sim...), descobrir e “sentir” se os outros exalariam o mesmo prazer sexual ao serem caligrafados por ela ou por outrem. Para fazer isso, ela começar a se deixar caligrafar por escrevinhadores (para tentar “congelar” seu hábito de prazer), até encontrar Jerome, que primeiro ela rejeita, desprezando a qualidade de sua pele, para depois aceitar o desafio do jovem inglês, intrigado por aquela exaltação. Raça dominante, num minúsculo território de cultura anônima depois de centenas de anos de protetorado inglês, Jerome, tão jovem, abre mão de sua superioridade ancestral e se ajoelha perante aquela arte versátil, sensual, arrebatadora. É aí que o amor carnal, numa seqüência de imagens eróticas, dignas de kama-sutra-ad-infinitum, irrompe de forma tão definitiva que veste-se de sentimento, de amor, de espiritualidade. É lá que adquirem significado as cenas de carne jogada ao lixo: primeiro como rejeição da carne (não da pele), inapta à arte, e depois como obliteração dos prazeres da carne suplantados pela ascensão do amor às mais altas esferas do romantismo. Naquela rendição incondicional, Jerome chega a prestar-se como serviçal, levando os textos dela a editores que tinham o hábito, como o pai dela, de usar sexualmente os mensageiros.
O cineasta poderia ter evitado a menção de Shakespeare: as pílulas mortíferas, fornecidas por um amigo ocasional, teriam sido eficazes sem semear no íntimo do espectador a expectativa de um suicídio a dois, banalizando naquele momento uma estória que até aquele momento estava sublimada por uma cultura acima de qualquer sugestão ocidental. Resta a ver se o cineasta o fez por livre e espontânea vontade ou se a “citação” consta do livro (diário) da autora. Se esta última hipótese é a verdadeira, poderia ela ser atribuída à vontade de Nagiko de ocidentalizar-se? Aquela vontade era tão forte assim? Se era, está explicada a ansiedade dela de livrar-se de um prazer sexual tão oriental. Entretanto a forma como a tragédia shakespeariana entra no filme soou barato.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Para Eros, com saudades... (o Viagra desnecessário)
Terror diante da morte do corpo.
Mas eis que ele morre e percebo a beleza do espírito.
Posso olhar o mundo com outros olhos.
Confesso que sinto saudades; melhor ainda: sinto falta do prazer.
Mas vejo como é bom afagar-te com o tato
Vejo como é bom o contato da tua pele.
O tempo poupou-nos.
A mim, os sentidos
A ti, toda a beleza
E só agora, no fim da vida,
coberto de neve,
eu que sempre acreditei possuir-te
Agora, aperreado do instinto
mas com o coração em chamas, posso, enfim
Ter-te.
Primavera de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
A proposta da oficina é incentivar jovens e adultos a produzir textos e a refletir sobre sua maneira de escrever. Neste sentido,a oficina desmistificará o ato da escrita transformando-a num processo centrado na reflexão sobre o assunto, sobre a forma textual adotada, sobre o papel do leitor e sobre o encadeamento das idéias.
Aprendendo a escrever melhor e a ler mais crítica e atentamente, é reforçada nos participantes a sua cidadania e sua auto-estima, permitindo que atuem mais ativamente na sociedade.
O Escrevivendo existe há três anos na Casa das Rosas- Espaço Haroldo de Campos de Poesia eLiteratura- e também já foi ministrado durante um ano na Biblioteca Temática de Poesia Alceu Amoroso Lima. Como resultado, somos uma espécie de família hospitaleira que adora receber novos escreviventes.
A partir de agosto de 2008, passei de mediadora a coordenadora do projeto Escrevivendo. Como mediadores, alunos de licenciatura da Fe/USP (Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa- em parceria com a Professora Doutora Neide Luzia de Rezende). Desta forma, demos um passo em direção à grande demanda por oficinas de escrita e leitura em São Paulo.
Quanto à interface para a blogagem, desenvolvo um projeto de pesquisa e pretendo, neste trabalho experimental com o blog - ferramenta de novas tecnologias de informação e comunicação- em parceria com a comunidade CIAM , de Marilia, verificar se será efetivo o uso da blogagem tanto entre mediadores e redatores participantes desta oficina quanto entre possíveis escreviventes que não possam estar presentes fisicamente conosco.
Bem-vindos!
Karen Kipnis
J.L.Borges e algumas de suas classificações
El idioma analítico de John Wilkins [fragmento]
(b) embalsamados,
(c) amaestrados ,
(d) lechones,
(e) sirenas,
(f) fabulosos,
(g) perros sueltos,
(h) incluidos en esta clasificacion,
(i) que se agitan como locos,
(j) innumerables,
(k) dibujados con un pincel finisimo de pelo de camello,
(l) etcetera,
(m) que acaban de romper el jarron,
(n) que de lejos parecen moscas.
Jorge Luís Borges
3º encontro - Breve explicação de Karen
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Quarto encontro (01-11-2008)
Já chegamos à metade deste nosso módulo Escrevivendo Memórias Eróticas, que a cada dia fica mais interessante, pelo menos para nós, mediadoras. Esses dias, passando pelo blog da Sandra Schamas, reli o texto "Orgia literária ou prazeres do texto grupal" e me emocionei novamente. Trata-se de texto de transição entre o módulo anterior - Escrevivendo Memórias de Amor - e este. Acessem: http://sschamas.blogspot.com/ e deleitem-se.
Hoje foi dia de leitura das últimas produções, de compartilhar textos dos escreviventes. Adoramos esse momento, pelo qual esperamos ansiosamente, roendo as unhas, ainda mais para saber o que vai sair da proposta feita. Alguns textos pudemos conhecer durante a semana, uma vez que muitos escreviventes conseguiram fazer sua primeira versão e nos mandar por e-mail. Ainda assim, aguardávamos a leitura deles em grupo e as reações de sua primeira recepção. Tal momento é impactante e único.
(...) pois, antes de se afastarem dali, mais de uma vez elas quiseram constatar como o mudo sabia cavalgar. (p. 121)
Um dos escreviventes, a Bruna, nos chama a atenção para o fato de, nesse trecho, o mudo satisfazer as duas freiras ao mesmo tempo:
"As duas jovens investigaram bem, por todos os lados; comprovaram que de nenhuma parte podiam ser vistas; a mais audaciosa, que iniciara a conversa a respeito de Masetto, despertou-o; e ele logo se pôs de pé; a freira segurou uma de suas mãos; fez-lhe algum carinho; e ele rindo, de tempos a tempos, como se fora um perfeito idiota, deixou-se conduzir ao caramanchão, onde, sem ser muito empenhado, fez o que ela queria que ele fizesse. A jovem, como companheira leal, assim que recebeu o que queria receber, cedeu seu posta à outra; e Masetto, mesmo continuando a parecer simplório, fez a vontade das duas; pois, antes de se afastarem dali, mais de uma vez elas quiseram constatar como o mudo sabia cavalgar. Em seguida, ambas, conversando a esse respeito, reconheceram que aquilo de fato era coisa deliciosa - e muito mais deliciosa do que tinham ouvido afirmar." (p. 121)
Entretanto, nossos participantes não chegaram a apontar elementos do texto que ilustrassem aquele dizer velado, o que, após provocá-los e deixá-los com a pulga atrás da orelha, revelamos. Trata-se de algumas passagens simples, como:
1. "(...) a freira segurou uma de suas mãos; fez-lhe algum carinho; e ele rindo, de tempos a tempos, como se fora um perfeito idiota, deixou-se conduzir ao caramanchão, onde, sem ser muito empenhado, fez 0 que ela queria que ele fizesse. A jovem, como companheira leal, assim que recebeu 0 que queria receber, cedeu seu posta à outra; e Masetto, mesmo continuando a parecer simplório, fez a vontade das duas; pois, antes de se afastarem dali, mais de urna vez elas quiseram constatar como o mudo sabia cavalgar. Em seguida, ambas, conversando a esse respeito, reconheceram que aquilo de fato era coisa deliciosa - e muito mais deliciosa do que tinham ouvido afirmar. Dali por diante, pois, sempre aguardando 0 momento azado, passaram a divertir-se com o mudo." (p. 121)
2. "(...) concordaram em que seria melhor elas partilharem do generoso poder de Masetto. (p. 122)."
3. "Então, com unânime consentimento, pondo-se às claras aos olhos de todas o que por todas fora praticado as escondidas (...)". (p. 122)
Concluímos essa discussão conversando sobre as potencialidades do leitor, que é capaz de captar muito mais do que está escrito no texto, dependendo, em grande parte, de suas experiências e de seu repertório. Dessa forma, na linguagem deve estar a consideração do autor pelo seu leitor, o qual não deve nunca ser menosprezado.
Voltando às leituras das produções dos escreviventes, estas se estenderam até o fim do encontro, entremeadas de muita polêmica. O primeiro texto lido, o do Paulo, gerou muitos comentários acerca da linguagem erótica ou pornográfica. Houve muitas críticas, mas os escreviventes se lembraram de que 1. o Escrevivendo é um espaço para se discutir a linguagem escrita e 2. a recepção dos leitores é muito individual. "Quem dá a medida do erótico ou do pornográfico somos nós mesmos, de acordo com nossos valores, nossas experiências", disse a Mafuane; assim, a linguagem obscena pode agradar a leitores que não se contentam com a sutileza de Tolstói, por exemplo, em Anna Kariênina. Após a reescrita, cremos que o Paulo autorizará a publicação de seu texto aqui no blog.
Quanto à proposta (v. "Segundo encontro", nesta seção), parece que, no geral, conseguimos nos fazer entender. Temos de levar em consideração que muitos de nossos escreviventes assumem-se "rebeldes", recusando-se a qualquer tipo de engessamento, mesmo que seja somente uma sugestão. Se não houvesse proposta nenhuma, apostamos, seríamos questionados sobre ela. Ai, esses autores...
Comentários dos escreviventes sobre os quais vale a pena se pensar:
"O pornográfico fere".
"Os poetas são mais eróticos".
Anotamos muitos dos comentários aos textos, mas pensamos ser melhor postá-los à medida que os textos forem publicados aqui, uma vez que vocês que estão lendo este texto não teriam os textos citados em mãos - ou em tela...
No próximo encontro, receberemos os valiosos Glauco Mattoso, Donny (poetas) e Walter José (filósofo e cineasta) para um debate sobre erotismo e pornografia. Será permitido levar convidados. Durante a semana, os escreviventes terão contato com a obra desses importantes artistas e já formularão questões para as provocações. Nós, mediadoras, estamos ansiosas e vamos tietar!!!!
Abraço a todos,
Loreta
1. BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Nova Cultural, 2003. p.119-123.